Já está chegando a hora de ir! Venho aqui me despedir e dizer em qualquer lugar por onde eu andar, vou lembrar de você. Só me resta agora dizer adeus e depois o meu caminho seguir, o meu coração aqui vou deixar, não ligue se acaso eu chorar, mas agora adeus!
*Os textos e artigos aqui publicados são de inteira responsabilidade de seus autores, e não traduzem a opinião do jornal O Alto Uruguai e seus colaboradores
segunda, 24 de fevereiro de 2025

No dia 23 de maio de 2003 escrevi a primeira coluna neste jornal. Inicialmente frequência semanal, depois quinzenal, e mais recente mensal. Escrevi em torno de setecentas colunas. Se fossem juntadas equivaleriam a cinco livros.

Agora escrevo a última. Minha colaboração com o jornal O Alto Uruguai nasceu ao conhecer Patrícia Cerutti numa viagem técnica que fizemos com outros 25 líderes que ocupavam funções diversas na comunidade regional. A viagem objetivava conhecer como a velha Itália ressuscitou desde a segunda guerra e vinha se desenvolvendo a taxas superiores à média dos países ricos. Convidado, me comprometi a tematizar o desenvolvimento regional como resultante do collegamento das forças vivas da comunidade. Collegamento era a palavra que eles usavam para designar a união de todas as forças.

De algum modo fiz isto ao longo destes quase 22 anos. Com frequência, recebia manifestações de leitores que afirmavam que minhas colunas os ajudavam a pensar de outro modo os problemas da região. Propunha que a política puramente representativa deveria ser mais participativa. A educação mais comprometida com a capacitação dos jovens para que acreditassem na possibilidade de realização pessoal permanecendo na sua terra natal. As lideranças mais ousadas na construção de alternativas para o desenvolvimento. Sempre mostrei que a região caminhava num ritmo lento comparando com lugares mais dinâmicos, sendo semelhantes as condições objetivas. O que faltava aqui era o collegamento dos italianos. A união da comunidade. A ousadia de empreender. A coragem de inovar.

Nesta perspectiva escrevi dezenas de colunas. Outras dezenas foram escritas para que a comunidade também descobrisse o potencial de inovação trazido pelo Polo de Modernização Tecnológica vocacionado para construir a capacitação de agentes de desenvolvimento e a formação de jovens agricultores através da Pedagogia da Alternância.

Nestes 22 anos o mundo mudou. Na Encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco, diz que as mudanças produziram cegueiras coletivas, epidemias morais, sendo a indiferença a pior delas. As relações humanas foram sendo desfibradas, restando contatos virtuais que reforçam a individualidade narcisista, a glamurização do sujeito que se basta a si mesmo. A Inteligência Alienígena veio dispensando os velhos hábitos de pensar, criando embaraços aos educadores tradicionais. Para que estudar matemática, gramática ou a tabela periódica se num toque o celular fornece a resposta? Para que assinar e ler o jornal, se aquilo que ele me traz já está disponível no celular? A Inteligência Alienígena, rapidamente, deixa de ser ferramenta de apoio à inteligência natural e se torna uma entidade que pensa por si. Esta fatalidade não pode tornar-se  um deus invisível que destrói a consciência das pessoas.

Frente este novo paradigma civilizatório, sempre me posicionei como educador vigilante, tematizando as questões do cotidiano e conectando-as aos fundamentos da Doutrina Social da Igreja que deve constituir, para os cristãos, seguro referencial de Ver a realidade, Julgar e pensar os problemas e Agir para construir mundo mais humano.

Sempre fui enfático na afirmação de que cristãos devem ser competentes para apresentar ao mundo perspectiva de vida social humanizadora. Não basta desenvolver o território. É necessário que o suporte material da economia ajude as pessoas a serem solidárias entre si, comprometidas com a verdade num tempo em que a mentira está se tornando doutrina da esperteza validada pelo sucesso individual.

Deste modo, sempre entendi que o jornal O Alto Uruguai poderia ser espécie de Universidade Aberta, uma cátedra disponível a todos para intercambiar experiências, comunicar pensamentos e suscitar mentalidade inovadora.

Assim me comportei, este é meu legado à comunidade. Mesmo não sendo morador daqui sempre me inseri na história da região com olhar de carinho pelas pessoas que moram aqui.

Agora, me resta dizer adeus, agradecer Patrícia Cerutti que me oportunizou esta janela para olhar e sentir este pedaço de nossa amada querência. Meu agradecimento a todos e todas leitores e leitoras que me prestigiaram ao ler e comentar minhas colunas. Vamos com fé. Obrigado!

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