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Demarcação
“Nunca existiu nenhum curso d’água chamado Rio dos Índios em Vicente Dutra”
Antropólogo Edward Mantoanelli aponta pontos de divergência no relatório elaborado pela Funai
Por: Márcia Sarmento
Publicado em: segunda, 20 de novembro de 2023 às 16:57h
Atualizado em: segunda, 20 de novembro de 2023 às 17:01h

Dando continuidade à série de matérias sobre o trabalho que vem sendo realizado em Vicente Dutra, pelo antropólogo Edward Edward Mantoanelli Luz, na alegada Terra Indígena Rio dos Índios, em Vicente Dutra, nesta edição estão compreendidas as divergências apontadas pelo profissional em relação ao Relatório Circunstanciado de Identificação e Delimitação (RCID), produzido pela Funai.

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De acordo com o pesquisador, existem várias divergências no documento emitido pela Funai. “A verdade nua e crua é que nunca existiu nenhum curso d’água chamado Rio dos Índios em Vicente Dutra. O nome, erroneamente, utilizado para batizar uma das sangas ou riacho municipal, é só uma estratégia propagandista e de marketing político utilizado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), sob encomenda do movimento indigenista regional para atender à necessária legitimidade da reivindicação”, frisa o antropólogo.

De acordo com a pesquisa que vem sendo coordenada por Mantoanelli, nunca houve habitação tradicional e permanente de uma aldeia indígena no município, mas sim a posse sob domínio de uma única família que passou a habitar a área reivindicada somente após a década de 1990, após um acordo com a prefeitura.

– Ambos os termos utilizados para denominar a área são totalmente fakes, infundados e ilegítimos, mas juntos, fortalecem-se mutuamente formando uma estratégia propagandista por meio da qual tanto os cidadãos quanto as autoridades desinformadas acabam comprando por falta de conhecimento, informações qualificadas e critérios. O certo é referir-se ao caso como a reivindicação territorial caingang em Vicente Dutra. A presença indígena nunca se consolidou a não ser após a intervenção dos órgãos estatais no final do século 20 e não do século 19 – reforça o pesquisador.

Legitimidade

Outra divergência apontada pelo antropólogo abrange a legitimidade da reivindicação feita, originalmente, pelos índios posseiros Floriano Jacinto e sua mãe, Rosa Jacinto, ambos, conforme Mantoanelli, interessados em expandir a sua área de propriedade para assegurar alguma área aos seus filhos e gerações. “O desejo dos proprietários foi parar no ouvido de algum agente do CIMI e acabou sendo apropriado pelo movimento indigenista para se tornar em um pedido de demarcação. Uma vez que a reivindicação estava consolidada, a propriedade da família Jacinto foi invadida por indígenas que, simplesmente, tomaram a área dos seus proprietários e, por meio de ameaças, pelo uso da força e violência. expulsaram todos os antigos donos”, afirma.

Em sua análise, Mantoanelli garante que o antropólogo da Funai omitiu e distorceu os relatos dos verdadeiros proprietários, membros da família Jacinto, e traz outros depoimentos obtidos de diversos informantes que nunca viveram, mas apenas passaram por episódios temporários na cidade, quando vinham vender ou comercializar o seu artesanato. 

A próxima matéria vai abordar as conclusões do levantamento do antropólogo Edward Mantoanelli e o relatório da Funai com relação à demarcação.
 

Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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