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Reconhecimento
A representatividade negra que ecoou em Seberi
Clarice Cocco Girardello e Neiva Maria de Souza idealizaram o desfile que levou visibilidade às passarelas do sétimo Chá das Amigas em prol do Hospital Pio XII
Por: João Marcelino
Publicado em: terça, 17 de maio de 2022 às 14:45h
Atualizado em: terça, 17 de maio de 2022 às 14:49h

A representatividade é um dos assuntos mais importantes em tempos atuais, pois ela é uma forma de luta por direitos negados e de representar politicamente os interesses de determinado grupo, classe social ou de um povo que é invisibilizado. Por isso, nesta semana, o Conexão apresenta a história de duas amigas que são apaixonadas pela vida, engajadas com movimentos sociais e que juntas contribuem para uma sociedade mais inclusiva. E quem conta essa história é a gerente de uma loja de Seberi, Clarice Cocco Girardello, 44 anos, e a artesã e artista plástica Neiva Maria de Souza, 53 anos, que ecoaram suas vozes na cidade de Seberi levando a representatividade negra para as passarelas do sétimo chá beneficente das Amigas do Hospital Pio XII.
Engajada com ações sociais e sempre em busca por fazer a diferença, Clarice já se desafiava em pensar fora da caixa muito antes do desfile acontecer. A ideia nasceu em 2020, quando começaram as organizações para o evento. Nessa época, a empresária já conhecia Neiva, e admirada com a exposição fotográfica e trabalhos sociais promovidos pela artista plástica, ficou inspirada em proporcionar algo novo e inclusivo para o 7º Chá das Amigas. No entanto, com a chegada do coronavírus e a pandemia que persistiu por dois anos, o evento precisou ser adiado, e Clarice guardou a ideia com o anseio por uma nova data.
– A Neiva é uma amiga muito especial. Quando se mudou para a cidade de Seberi, ela chegou com tudo, mostrando que os negros precisam brigar pelos seus direitos e ocupar seu lugar na sociedade. E é extremamente importante cada vez mais haver a inclusão do corpo negro na nossa sociedade. É preciso estabelecer espaço e oportunidades para que se mostrem, e por isso convidei ela e outras mulheres negras para desfilarem. A intenção do desfile é oferecer àquelas mulheres um momento de visibilidade e levar a beleza da mulher negra para as passarelas, para mostrar às pessoas que o negro pode ocupar todos os lugares – explica Clarice.
Para Neiva, as expectativas também estavam altas e a vontade de desfilar representando sua cultura crescia com o passar do tempo. Fazendo parte do movimento negro há muitos anos em Carazinho, sua cidade de origem, sua atuação em prol da valorização da beleza e a inclusão do corpo negro na sociedade também se estende em diferentes ações sociais, ministrando palestras, conduzindo rodas de conversas e participando de entrevistas, além de promover exposições artísticas no município de Seberi. “A cultura negra é impar desde quando fomos trazidos para o Brasil. Somos participantes de vários espaços, basta as pessoas aceitarem. Eu sempre falo, o negro é como a matemática, está em todos os lugares e a nossa saga [por representatividade e inclusão] é muito conhecida, porém também é esquecida. Mas, nunca deixaremos de ser história, vamos sempre estar no passado, no presente e no futuro, porque ser negro é ser raiz”, destaca Neiva.
Após dois anos de espera, neste ano, o fim do mês de abril marcou o acontecimento do 7º Chá das Amigas, e para Clarice, o principal sentimento é de realização. “Estou realizada. Consegui tocar o coração das pessoas e valorizar a beleza daquelas mulheres negras. Geralmente é muito falado sobre inclusão e empatia. Mas, não adianta apenas falar. Elas devem acontecer. O mercado tem um modelo para contratos e empregos. E precisamos mudar, precisamos estabelecer oportunidades para todas as pessoas. Esse desfile deu espaço de visibilidade e trouxe a oportunidade daquelas mulheres desfilarem e se sentirem valorizadas e empoderadas”, expressa a gerente.
O momento encantou os olhos de quem viu a beleza e forças daquelas mulheres negras que guardam lindas histórias, e para Neiva o sentimento de alegria não é diferente, mas soma-se a muitos outros que fazem ela se sentir linda e reconhecida. “Depois de dois anos de pandemia, ser uma mulher negra e abrir o desfile de um evento tão importante para o município de Seberi, com várias empresas e modelos participando, é inédito e histórico. Algumas meninas que desfilaram fazem parte do Grupo Afroseb, outras, são amigas e familiares das integrantes do movimento. Agradecemos à Clarice por ter sido a pioneira em realizar esse trabalho e ter estabelecido essa oportunidade. Porque isso é poder, muito poder”, expressa.
– Desfilei com turbantes e vestes que levam estampas que representam a cultura africana, em um momento lindo. Eu me senti uma linda mulher guerreira. Para mim, esse foi o desfile da inclusão em todos os aspectos, beleza, naturalidade e representatividade por proporcionar que a beleza negra se destacasse em um momento ímpar e ter a oportunidade de mostrar que existe beleza no corpo negro e nossa capacidade. Ela trouxe valorização ao negro – emocionada ao contar sobre o momento, Neiva finaliza com o sentimento de dever cumprido.
O Chá das Amigas do Hospital Pio XII se renova a cada ano, trazendo novidades e temas importantes para a sociedade com ações que geram ajuda ao hospital. E para Clarice, é uma oportunidade de fazer a diferença e poder contribuir com diversas causas. “É uma tarde que toca nosso coração, sendo um momento muito emotivo, por ser uma ação em prol do hospital, que acolhe e promove ajuda mútua. Fazer a diferença é sobre gostar de mudar, inovar e impactar. É importante fazer a diferença, com pequenos gestos, que farão muito bem às pessoas. Fazendo assim, surge curiosidade em participarem do evento, e resulta na venda de mais ingressos e arrecadações para a instituição”, finaliza.

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Fonte: Jornal O Alto Uruguai
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